
Era uma vez, em uma pequena vila cercada por florestas e montanhas, dois amigos inseparáveis chamados Kai e Gerda . Eles eram próximos e cresceram brincando juntos, cuidando um do outro como irmãos. Kai era um menino esperto e gentil, e Gerda era carinhosa e ardente. Eles passaram as tardes juntos, brincando nos jardins e ajudando a avó de Kai a plantar flores, que enfeitavam a janela da casa e perfumavam o ar.
Naquela vila, circulava uma história misteriosa sobre a Rainha da Neve . Diziam que ela era uma figura fria e poderosa, uma rainha que dominava os ventos do inverno e vivia num palácio feito feito de gelo, nas terras longínquas e inóspitas do eterno inverno. A Rainha da Neve, segunda a lenda, viajava em seu trem puxado por renas, espalhando neve e frio por onde passava.
Um dia, algo muito estranho aconteceu. Um espelho mágico e amaldiçoado, criado por um feiticeiro maligno que odiava tudo o que era bom e belo, corteja-se em milhões de pedaços. Esse espelho era conhecido por distorcer tudo o que refletia, fazendo com que o belo parecesse feio, e o bom, cruel. Ao se quebrar, esses cacos de vidro minúsculos foram levados pelo vento para todos os cantos do mundo, causando desastres onde quer que caíssem.
Infelizmente, algumas dessas lascas cavaram sobre o vilarejo de Kai e Gerda. Um desses cacos foi levado pelo vento direto ao olho de Kai e outro se cravou em seu coração. A princípio, ele não viu, mas, aos poucos, seu comportamento começou a mudar. Com o caco no olho, tudo que Kai via parecia feio e distorcido, e com o caco no coração, ele se tornou frio e distante, perdendo o carinho e o amor que antes sentia por todos.
Gerda notou a diferença, pois seu querido amigo Kai, que antes era gentil e amoroso, começou a tratar com indiferença e a zombar de tudo o que ela fazia. Eleva das flores, dos animais e até das brincadeiras que antes adorava. Kai se afastava de Gerda e passava horas sozinho, brincando com pedaços de gelo e achando beleza apenas nas formas frias e geométricas.
Em uma tarde gelada, Kai saiu para brincar sozinho na praça coberta de neve. Enquanto estava ali, apareceu uma carruagem misteriosa, puxada por renas brancas e cintilantes. Dentro dela estava uma mulher de beleza deslumbrante e assustadora, com olhos azuis como o gelo e pele pálida como a neve. Era a própria Rainha da Neve . Ela o observou com um olhar frio, mas encantador, e, percebendo a mudança que o caco de vidro havia causado no coração do menino, decidiu que ele seria perfeito para seu palácio de gelo.
– Venha comigo, meu querido – disse ela com uma voz suave e hipnótica. – Vou levá-lo para um lugar onde tudo é puro, brilhante e perfeito, longe das frivolidades e fraquezas do mundo humano.
Kai, enfeitiçado por sua beleza e pela promessa de algo grandioso, subiu na carruagem sem hesitar. A Rainha da Neve envolveu-o em seu manto de gelo, e os dois partiram em disparada, deixando apenas uma trilha de neve para trás.
Quando Gerda descobriu o desaparecimento de Kai, ficou desesperada. Ela encontrou por ele em todos os lugares, mas não encontrou rastro algum de seu amigo. Decidida a encontrá-lo, Gerda partiu em uma longa jornada, disposta a enfrentar qualquer perigo para trazer Kai de volta para casa.
Ela caminhou por florestas escuras e campos cobertos de neve, até chegar a um rio. Desesperada, ela disse ao rio se sabia onde estava seu amigo. Em resposta, o rio fez a água mover-se de forma que Gerda pudesse seguir a correnteza, e, ao longo do caminho, ela encontrou uma gentil senhora que vivia em uma casa cercada por um belo jardim onde era sempre primavera.
A senhora acolheu Gerda e a convidou a descansar, oferecendo-lhe um chá quente e dizendo que ela poderia ficar quanto quisesse. A senhora, que era na verdade uma feiticeira gentil, encantou o jardim para que todas as flores ali ficassem sempre em pleno florescimento. Mas, temendo que Gerda partisse, a feiticeira lançou um feitiço para fazê-la esquecer de sua busca por Kai.
Por um tempo, Gerda ficou encantada com o jardim, esquecendo-se de sua missão. Mas, ao observar uma roseira em um canto do jardim, algo despertou em sua memória. As rosas lembraram-na das tardes passadas com Kai, e ela, tomada pela saudade, lembrou-se da promessa de resgatá-lo. Desfez o feitiço da feiticeira e, com gratidão, deixou o jardim, seguindo em frente.
Gerda continuou sua jornada e, ao longo do caminho, encontrou um corvo que, ao ouvir sua história, contou sobre um príncipe que vivia em um castelo próximo e que se parecia muito com Kai. Cheia de esperança, Gerda foi até o castelo e conseguiu falar com a princesa, que, ao ouvir sua história, permitiu que ela visse o príncipe. Mas, para tristeza de Gerda, ele não era Kai.
Ainda assim, a princesa, comovida pela coragem e determinação da menina, ofereceu-lhe roupas quentes, provisões e um trem para que continuasse sua busca. Gerda agradeceu e, com renovada esperança, avançou seu caminho, sempre pensando em seu amigo perdido.
Finalmente, depois de muita viagem, Gerda chegou ao norte, onde o inverno era eterno. Ali, ela encontrou uma rena, que, ao ouvir sobre a Rainha da Neve, se ofereceu para levá-la até o palácio de gelo. Montada na rena, Gerda atravessou vastas barreiras cobertas de neve e suportou ventos gelados e tempestades.
No caminho, pararam na casa de uma mulher sábia chamada Laponesa , que morava em uma cabana de gelo. A Laponesa ouviu a história de Gerda e, sabendo do poder da Rainha da Neve, deu-lhe um conselho importante:
– Minha criança, o que você procura não pode ser dado por magia. A força para salvar seu amigo está em seu próprio coração. É o amor puro e verdadeiro que pode desfazer o feitiço da Rainha da Neve.
Animada pelas palavras de Laponesa, Gerda e a rena seguiram adiante, até finalmente alcançarem o palácio da Rainha da Neve. Era um castelo magnífico, feito de blocos de gelo que reluziam como cristais. Cada sala, cada corredor, era frio e vazio, refletindo a frieza do coração da Rainha da Neve. Gerda, tremendo de frio, entrou no palácio em busca de Kai.
Em uma vasta sala, ela o encontrou. Ele estava sentado e imóvel, com uma expressão vazia, montando um quebra-cabeça feito de blocos de gelo que a Rainha da Neve lhe dera. Com o feitiço do caco de vidro, ele não reconheceu Gerda. A Rainha da Neve havia encantado seu coração, e ele estava preso em uma ilusão de perfeição gelada e distante.
Desesperada, Gerda correu até ele, chamando seu nome. Mas Kai não reagiu. Então, com o coração partido, ela começou a chorar. Suas lágrimas eram tão puras e cheias de amor que, ao cair sobre Kai, derreteram o gelo que envolveu seu coração. As lágrimas de Gerda eram como um calor que desfazia o feitiço e o caco de vidro que havia cravado no coração de Kai.
Aos poucos, Kai começou a considerar Gerda. Ele sentiu seu coração aquecido e lembrou-se de quem era e do amor que sentiu pela amiga. O caco de vidro em seu olho também se dissolveu, e ele passou a ver o mundo novamente com amor e beleza.
A Rainha da Neve, furiosa ao perceber que o feitiço foi quebrado, não pôde fazer nada. O amor verdadeiro de Gerda era mais poderoso do que qualquer magia ou encantamento. Kai e Gerda se abraçaram, e, com a ajuda da rena, deixaram o palácio da Rainha da Neve, voltando para a vila.
Quando chegaram ao vilarejo, perceberam que progrediram e que o amor e a amizade entre eles havia se tornado ainda mais forte. Eles enfrentaram desafios, apoiaram o frio do norte e venceram a magia mais sombria, tudo por causa do amor verdadeiro que tinham um pelo outro.
E assim, Gerda e Kai viveram felizes para sempre, com o coração aquecido pelo poder do amor e da amizade verdadeira, sempre lembrando das lições aprendidas e das aventuras que os uniram ainda mais.